15 out

Contran anuncia novas regras para pedágio eletrônico em rodovias brasileiras

O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou, nesta segunda-feira (dia 14), a Resolução 1.013/2024 que atualiza as regras para implementação do pedágio eletrônico em rodovias concedidas à iniciativa privada, em todo o país. O sistema – também conhecido como free flow – permite que os condutores de veículos passem pelos pontos de cobrança de pedágio automático, sem necessidade de qualquer parada nas cabines para o pagamento da tarifa.

Continuar lendo

A medida anunciada pelo Ministério dos Transportes também amplia o prazo de pagamento do pedágio dos atuais 15 dias posteriores à passagem pela praça de pedágio para 30 dias. Esta medida começa a valer a partir da publicação da resolução no Diário Oficial da União (DOU).

Após o prazo de 30 dias, a falta de quitação da cobrança pelo uso da rodovia será considerada infração grave, prevista no Artigo 209 do Código de Trânsito Brasileiro, com multa de R$ 195,23 e cinco pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do condutor.

O secretário Nacional de Trânsito do Ministério dos Transportes, Adrualdo Catão, prevê que a ampliação do prazo para o cidadão resultará em menos multas por falta de pagamento. As informações são da Agência Brasil.

“Temos verificado que muitos cidadãos pagam o pedágio no 16º dia, no 20º dia. Então, esse prazo de 30 dias deve reduzir drasticamente a quantidade de multas por evasão [de pedágio] no Brasil.”

Centralização

Pela resolução, as concessionárias das rodovias têm até 180 dias para centralizar a informação de cobrança de pedágio, com link para pagamento, diretamente no aplicativo da Carteira Digital de Trânsito (CDT), disponível para smartphones e acessível pela conta do portal Gov.br.

O secretário Adrualdo Catão explicou que a concentração da notificação sobre a cobrança e o pagamento na plataforma digital irá melhorar a comunicação com usuários.

“Isso vai simplificar a vida do cidadão. Hoje, a grande reclamação é que [usuário final] passa e não sabe bem onde tem que pagar. Agora, tudo vai estar totalmente centralizado: a informação da passagem e o local para pagamento.”

As novas regras também padronizam a sinalização do pedágio eletrônico nas rodovias para informar os motoristas sobre a existência do novo sistema de cobrança naquele trecho rodoviário.

Nesta segunda-feira, foram apresentadas as placas específicas que deverão ser instaladas nas vias de acesso e ao longo das rodovias, com a mensagem de cobrança automática e as tarifas para os diferentes tipos de veículos, como motocicleta, automóvel utilitário, ônibus e caminhão por eixo.

Identificação

A resolução moderniza os formatos de identificação e classificação dos veículos, no sistema de pedágio sem cabines e cancelas.

O free flow prevê que as concessionárias adotem tecnologias automáticas como o uso da conferência digital da placa, da imagem do veículo, classificação veicular e também pela tag colocada no para-brisa do veículo.

Neste último caso, a comunicação é feita com tecnologia de radiofrequência para abrir as cancelas automáticas e permitir livre passagem do veículo.

Caso o motorista seja multado, as imagens dos veículos serão armazenadas pelo prazo mínimo de 90 dias, podendo chegar a cinco anos.

Valor

A resolução prevê uma nova forma de cobrança, na qual o motorista paga pedágio apenas pelo trecho percorrido. Com isso, o governo estima que a cobrança da tarifa será mais justa por considerar a quilometragem rodada, o que poderá diminuir o valor para beneficiar, por exemplo, o motorista que mora perto do pedágio. Atualmente, as cobranças são feitas independentemente da quilometragem percorrida.

A mudança será possível a partir da instalação de mais pórticos pelas concessões de rodovias. Estes equipamentos fazem parte do sistema de cobrança de pedágio eletrônico.

“O cidadão vai pagar por aquilo que usou. Hoje, a praça de pedágio tradicional não permite fazer [essa cobrança] porque precisa de uma estrutura muito maior. Então, quando a gente aprimora a regulamentação do free flow certamente estará barateando o uso da rodovia para o cidadão”, prevê o secretário Adrualdo Catão.

Outras vantagens

Antes da extensão do free flow para todo o Brasil, o modelo foi testado por concessionárias de rodovias em quatro estados: Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

Os resultados preliminares apontaram que a tecnologia melhora a mobilidade porque dá mais fluidez no trânsito, há menos frenagem dos veículos; além de queda na emissão de carbono nas rodovias. Com a dispensa de espera em praças de pedágio, o secretário do Ministério dos Transportes acredita que haverá também mais segurança viária.

“Porque os pontos de cobrança de pedágio são considerados lugares de alto risco de sinistro. Com a eliminação desse tipo de parada, certamente, a gente terá também menos ocorrências no trânsito.”

A resolução apresentada nesta segunda-feira é resultado da coleta de informações com os diversos setores usuários das rodovias concedidas.

Saiba Mais:

Novos residenciais se alinham às tendências da vida moderna

Desfazer

‘Contragolpe’: Febraban inicia campanha de alerta contra fraudes financeiras

Desfazer

Mais de R$ 480 mil em joias: monja confessa roubo de peças doadas por fiéis e é presa na Itália

Desfazer

Mais recente Próxima Banco do Brasil lança poupança social para pagamento de benefícios

9 out

Prefeito de Goiânia volta atrás e cancela quase 2 mil demissões após perder eleições

O prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), voltou atrás e anulou as quase 2 mil demissões que realizou na manhã desta terça-feira, 8, depois de sua derrota nas eleições. Em nova edição do Diário Oficial do município, o chefe do Executivo goianiense determinou que os efeitos dos decretos anteriores sejam suspensos.

Ao todo, foram 1.307 servidores exonerados e 655 comissionados dispensados das pastas de Cultura, Educação, Saúde, Direitos Humanos, Financeiro, Meio Ambiente, Comunicação, Desenvolvimento Humano e Social, Turismo, Esporte, Habitação, Mobilidade e Administração Pública.

A decisão do prefeito foi alvo de críticas. O Sindicato dos Jornalistas de Goiás enviou um documento ao gabinete de Cruz afirmando que, “independentemente do resultado das eleições e de que seja o período final de mandato, é necessário que a população continue a ser informada das atividades e serviços prestados pela prefeitura de Goiânia”. Entre os demitidos estavam 50 jornalistas que ocupavam cargos de assessoria em pastas da prefeitura.

A assessoria de Cruz disse em nota ao Estadão que as demissões foram um “ajuste da máquina” para cumprir com as metas fiscais e não prejudicar as contas da cidade.

“Eventuais nomeações poderão ser realizadas, caso sejam identificadas necessidades em áreas estratégicas”, conclui a nota.

Rogério Cruz ficou em penúltimo lugar nas eleições e não avançou para o segundo turno na sua busca por reeleição. Ele teve 21.616 votos (3,14%). Fred Rodrigues (PL) e Mabel (União Brasil) disputarão a prefeitura em 27 de outubro. Eles tiveram, respectivamente, 31,14% e 27,66% dos votos.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

8 out

Pragmatismo ou polarização? Eleição do Entorno e lições para 2026

Gabriel Amaral — Cientista político, doutorando em administração pública e sócio da i3P Risco Político

O cenário político polarizado entre Lula e Bolsonaro pode ser interpretado de duas formas, especialmente quando se analisa o contexto do Entorno do DF após as eleições municipais do último domingo. A primeira interpretação sugere que essa polarização nacional se reflete em todos os níveis da política, e o caráter conservador do Entorno é um reflexo direto da popularidade do bolsonarismo. Dentro desse raciocínio, o sucesso dos partidos de centro-direita na região pode ser visto como uma extensão do apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, cujas pautas conservadoras ressoam com as preocupações dos eleitores locais.

Há uma segunda interpretação possível: o embate ideológico entre Lula e Bolsonaro, tão central na política nacional, pode não influenciar diretamente as escolhas eleitorais no nível local. Nesse contexto, os eleitores do Entorno tendem a optar por políticos que priorizam questões práticas e imediatas, como saúde, educação e transporte, independentemente de suas afiliações ideológicas, favorecendo aqueles que mantêm o status quo e estão mais alinhados com os interesses locais.

Essa segunda interpretação ajuda a entender o cenário eleitoral do Entorno, que, desde 2018, tem visto uma consolidação dos partidos de centro-direita nas prefeituras da região. Em 12 municípios estratégicos, o União Brasil, o PL e o PP emergiram como as forças dominantes, refletindo a busca do eleitorado por soluções pragmáticas e rápidas para problemas cotidianos. O Entorno faz parte do estado de Goiás, mas sua dependência socioeconômica é do DF, milhares de trabalhadores atravessam diariamente as fronteiras entre essas regiões em busca de serviços e emprego, intensificando a necessidade de políticas públicas que melhorem a mobilidade e os serviços básicos. Nesse sentido, os partidos que prometeram eficiência administrativa e soluções concretas acabaram sendo favorecidos, aproveitando-se da proximidade com a capital federal e suas demandas compartilhadas.

Por outro lado, a esquerda enfrenta grandes dificuldades em captar o apoio do eleitorado no Entorno. A incapacidade de eleger prefeitos nos principais municípios da região evidencia uma desconexão entre as pautas progressistas e as preocupações imediatas da população local. Partidos como o PT, que tem grande influência no cenário político nacional, não conseguiram traduzir suas grandes propostas em ações que atendam diretamente às necessidades locais. Isso sugere que os eleitores do Entorno, em sua maioria, preferem o pragmatismo de partidos que oferecem respostas rápidas aos seus problemas diários, deixando de lado os debates ideológicos. A esquerda, se quiser reconquistar relevância na região, precisará reformular sua abordagem, adaptando suas propostas para dialogar com as demandas concretas do eleitorado.

Essas eleições demonstram que o comportamento eleitoral no Entorno não é determinado apenas pela ideologia, mas, sim, pela percepção de quem pode fornecer soluções tangíveis. Com as eleições de 2026 se aproximando, a tendência de continuidade dos partidos de centro-direita no Entorno parece cada vez mais forte. Os partidos conservadores têm consolidado seu espaço ao entregar respostas práticas aos problemas locais, como a precariedade dos serviços públicos e a necessidade de uma gestão eficiente. Nesse cenário, os partidos que não se adaptarem à realidade local correm o risco de perder ainda mais relevância, já que os eleitores estão focados em resultados, e não em discursos ideológicos distantes.

Independentemente de qual das duas interpretações se adote — polarização nacional refletida nas escolhas locais ou prioridade por pragmatismo sobre ideologia —, o recado das urnas para os partidos de esquerda no Entorno do DF é claro: é preciso repensar suas estratégias e focar nas demandas reais da população. Para sobreviver politicamente na região, a esquerda precisa “pensar onde o pé pisa”, ajustando suas propostas para atender às necessidades cotidianas dos eleitores, em vez de insistir em pautas amplas que não ressoam com a realidade local.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

7 out

Com 21 filmes gratuitos, Laguna recebe o Festival de Cinema Ambiental

Laguna recebe a partir desta segunda (07) o Festival de Cinema Ambiental, o Ecocine, com uma seleção de 21 filmes de diversos países, além de rodas de conversas, oficinas, minicursos e muito mais atividades.

A programação é totalmente gratuita e segue até o dia 11. Para o primeiro dia, a maratona começará pela manhã e se estenderá até a noite em vários locais. Confira todo os horários e locais das sessões de filmes e as demais atividades no site do Ecocine.

O festival terá a presença de nomes como o do diretor e produtor Walter Caira, da produtora Giselle Paes e do músico, escritor e roteirista Demétrio Panarotto. Eles estarão em Laguna para abordar os temas “Criação Audiovisual”, “Acessibilidade em Projetos Culturais e Audiovisuais” e “Roteiro de audiovisual”.

Outra presença confirmada é a do diretor Rafael Coelho, que fará palestra na noite de abertura do festival, após a exibição do filme “Whera Tupã e o Fogo Sagrado”, dirigido por ele. A atividade ocorre a partir das 19h, na Livraria Coruja Buraqueira, no Centro Histórico de Laguna.

A mostra de filmes exibirá ainda títulos como o documentário “Mulheres Araucárias”, a ficção “Mar que nos rodeia” e a animação “Bosquecito” (confira abaixo todos os filmes selecionados). As obras foram selecionadas pela equipe de curadoria do Ecocine, levando em conta a presença de temas como mudanças climáticas, lixo, mobilidade urbana, desmatamento, soberania alimentar, povos originários, consumo, água, poluição, vida selvagem e sustentabilidade.

As atividades do Ecocine – Festival de Cinema Ambiental vão ocorrer em pelo menos cinco diferentes espaços espalhados pela cidade de Laguna. A mostra de filmes não terá caráter competitivo, e haverá sessões inclusivas para PCDs com filmes com legendagem, audiodescrição e língua brasileira de sinais – LIBRAS.

O Eco Cine foi contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema edição Paulo Gustavo 2023, através da Fundação Catarinense de Cultura e Governo do Estado de Santa Catarina.

Programe-se: Ecocine – Festival de Cinema Ambiental

Quando: de 6 a 11 de outubro

Onde: Laguna

Entrada: programação gratuita – confira no site.

2 out

Brasil mantém operação de repatriação no Líbano após invasão por terra

O governo brasileiro decidiu manter a operação de repatriação de nacionais que estão no Líbano mesmo com a invasão da região por terra que foi iniciada por Israel na segunda-feira (30/9). A avaliação de momento, de acordo com fontes consultadas pelo Correio junto ao Ministério da Defesa e ao Itamaraty, nesta terça-feira (1/º10) é de que ainda existem condições de segurança para os voos.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva começou a cadastrar cidadãos que querem retornar ao país e deixar a área de conflito. Uma lista está sendo criada para a realização das primeiras retiradas. A prioridade é evacuar mulheres e crianças e pessoas com mobilidade reduzida ou problemas de saúde.

O Ministério das Relações Exteriores está em contato permanente com autoridades libanesas para buscar as autorizações necessárias. A retirada está prevista para ocorrer por meio do Aeroporto de Beirute que, apesar de ter sido alvo de bombardeio em suas proximidades, ainda está funcionando.

A avaliação da pasta é de que não é necessário autorização de Israel, pois a capital do Líbano está em poder de autoridades libanesas. No último sábado (28) ocorreu uma reunião entre representantes do Brasil e do Líbano para organizar o processo de retirada dos brasileiros e parentes que manifestem o desejo de deixar a região antes que o conflito se escale.

Na segunda-feira, Israel iniciou uma incursão por terra que, de acordo com o governo do país, “é limitada” e com foco “em terroristas do Hezbollah”. Tanques e tropas especiais ultrapassaram a fronteira. Ao mesmo tempo, ataques aéreos foram lançados.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

30 set

Gabigol volta a atuar pelo Flamengo por 90 minutos após mais de 50 dias e vira opção de Tite para decisão

Gabriel Barbosa voltou a atuar em uma partida pelo Flamengo como titular, e jogou 90 minutos, algo que não acontecia há exatos 57 dias.

Desde a derrota para o São Paulo o camisa 99 não disputava um jogo inteiro como aconteceu neste domingo, diante do Athletico-PR, no Maracanã, também pelo Brasileirão.

Depois de vários jogos sem Pedro, lesionado, Tite enfim resolveu dar chance a Gabigol, e indicou que a mudança tática com o aproveitamento do atacante como centroavante mais móvel pode vingar.

O camisa 99 deve ser novamente opção contra o Corinthians na disputa da semifinal da Copa do Brasil, que começa nesta quarta-feira, no Rio.

Se não fez gol nem teve atuação brilhante, Gabi deu sinais de evolução depois de algumas partidas entrando no segundo tempo. Foram cinco, para ser mais preciso.

A última o jogo que eliminou o Flamengo da Libertadores, contra o Peñarol. Desta vez, contra o Athletico-PR, Tite não tinha Carlinhos, suspenso.

Vale lembrar que Gabigol vive um inferno astral sob o comando do treinador em 2024. O cenário deve fazê-lo deixar o Flamengo ao fim do contrato, em dezembro.

Mais recente Próxima Flamengo registra seu pior público do ano em vitória contra Athletico-PR no Maracanã

27 set

Ortopedista diz que caminho para prevenção de doenças ósseas é a atividade física

Os principais cuidados com as articulações do joelho e quadril foram explicados pelo ortopedista Isaías Chaves, durante o programa CB.Saúde — parceria entre o Correio e a TV Brasília — desta quinta-feira (26/9). Às jornalistas Carmen Souza e Mila Ferreira, o especialista em articulações do quadril e joelho comentou sobre as complicações no quadril advindas do envelhecimento e como fazer a prevenção a doenças ósseas.

“Com o envelhecimento, é natural ocorrer o desgaste nas articulações, tanto do quadril quanto do joelho. As articulações sofrem desgastes no decorrer da vida, que podem evoluir para uma artrose disfuncional: onde o paciente perde a mobilidade, ou artrose mais leve: onde o desgaste não afeta a vida do paciente de maneira contundente. No quadril, o desgaste da articulação e a perda óssea são pontos que acarretam doenças ósseas. É muito comum um idoso sofrer uma queda simples e ter uma fratura no quadril. O importante é entender que a musculatura que está em volta do osso tem que ser bem cuidada e preservada com mobilidade e atividade física para garantir que não tenha tanta dor articular, independentemente de existir artrose ou não”, explica o ortopedista.

Ele destaca que o principal cuidado paliativo articular é a atividade física, fisioterapia, pilates, exercícios de alongamento feitos com aparatos simples, que tendem a reduzir a sobrecarga no joelho e quadril, acabando com as queixas de dores do paciente.

O ortopedista afirmou também que artrose de quadril é uma lesão muito limitante, levando o idoso a deixar de sair de casa pela dor e a não conseguir realizar atividades simples do cotidiano, como cruzar as pernas e amarrar os sapatos. Por muitas vezes, a dor não é grande no quadril, mas sobrecarrega a coluna vertebral e o joelho, causando queda na mobilidade e, consequentemente, na qualidade de vida. Nesses casos, a prótese de quadril (artroplastia) é indicada. “As próteses presentes no mercado atualmente são de excelente qualidade tendo duração de mais 20 anos”, ressaltou.

“Antigamente a prótese era utilizada somente para idosos e tinha uma duração menor. Nos dias de hoje, pacientes jovens ativos retornam à prática de esporte por meio da artroplastia. O tenista Andy Murray, por exemplo, fez a prótese nos dois quadris e jogou tênis em alto nível depois da cirurgia. O perfil da cirurgia mudou bastante. É possível tirar um paciente da depressão com a artroplastia, devolvendo a qualidade de vida, trazendo a possibilidade de jogar um futebol ou praticar uma corrida”, esclarece o especialista.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

26 set

Motoristas e passageiras de transporte por aplicativo reclamam de assédio

Uma pesquisa realizada pelos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, em parceria com o aplicativo Uber, revelou que 74% das 350 mulheres entrevistadas no Distrito Federal já sofreram algum tipo de violência — como assédio sexual, agressões físicas, olhares insistentes e discriminação — em serviços de transporte por aplicativo na capital federal. O estudo também aponta que 50% das usuárias gostariam de poder escolher motoristas mulheres e que 45% utilizam esse meio de transporte para se locomover no DF.

Dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) mostram que, no ano passado, dos 889 casos de importunação sexual registrados no DF, 23% ocorreram dentro de carros por aplicativo. Especialistas ouvidos pelo Correio ressaltam a importância de as plataformas adotarem medidas mais eficazes para garantir a segurança de usuários e motoristas, como a oferta de opções que proporcionem mais conforto e proteção às passageiras, além do fortalecimento dos mecanismos de denúncia e prevenção.

Mas mulheres e homens que dirigem para essas plataformas também reclamam do assédio. Gisele*, de 42 anos, motorista de aplicativo há três anos, contou que já enfrentou situações desconfortáveis com passageiros, uma delas envolvendo um cliente que pediu seu número de telefone para um encontro, após elogiar sua aparência. “Não eram elogios sobre o meu trabalho, mas sobre o meu braço, cabelo e sorriso”, lembra.

“Foi bastante constrangedor, mas esclareci que sou casada e estava apenas trabalhando. Ele não gostou e eu disse que, se estivesse incomodado, poderia sair do carro. No restante da corrida, ele permaneceu calado, mas claro que a gente sente medo. No fim, preferi não reportar, pois só queria trabalhar”, conta.

Fábio*, 27, motorista de aplicativo, relatou ter sido vítima de assédio por parte de uma passageira durante uma corrida, descrevendo o ocorrido como uma das situações mais desconfortáveis que já enfrentou em seu trabalho. Ele contou que foi solicitado por um casal que estava se deslocando de uma festa para outra. Ao chegar no destino, o namorado da mulher entrou no local para verificar o horário de término do evento, enquanto ela permaneceu no carro. Nesse momento, a passageira tentou iniciar uma conversa, oferecendo uma bebida ao motorista.

“Ela insistiu para que eu aceitasse uma bebida, mas eu recusei, dizendo que não bebia”, relatou o motorista. “Foi aí que ela me pediu para olhar para ela, e, quando eu olhei, ela me beijou do nada. Fiquei sem reação e a empurrei, dizendo: ‘Moça, tu é doida? Teu namorado está ali, isso pode dar problema'”.

Mesmo com o alerta do motorista, a passageira minimizou a situação. “Ela disse que não se importava com o namorado, mas eu estava muito desconfortável. Falei para ela não fazer aquilo, que não era certo”, acrescentou.

Impactos

A psicanalista e líder do movimento Feminino e Mentalidade do Mundo, Ana Lisboa, destaca que vítimas de assédio em carros de aplicativos, sejam passageiros sejam motoristas, podem enfrentar uma ampla gama de impactos psicológicos. Entre os mais comuns estão ansiedade, medo persistente, sensação de vulnerabilidade e, em alguns casos, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). “Essas situações podem resultar em dificuldade de usar o serviço novamente ou até mesmo de sair de casa, especialmente quando a pessoa se sente vulnerável em atividades cotidianas”, avalia.

Motoristas que vivenciam essas situações, tanto homens quanto mulheres, também podem sofrer no ambiente de trabalho, revivendo episódios anteriores por meio de flashbacks, pesadelos ou uma constante sensação de perigo, o que afeta sua qualidade de vida. “Esse medo pode gerar receio de aceitar novas corridas ou até mesmo levar ao abandono da profissão”, alerta Ana Lisboa.

“Outro impacto frequente é a depressão, que surge quando a vítima se sente impotente, culpada ou envergonhada pelo ocorrido, especialmente se não recebeu apoio. A desconfiança de outras pessoas também é um efeito comum, levando ao isolamento social”, conclui a especialista.

Passageiras

Mariana*, de 25 anos, relatou um episódio de assédio que enfrentou durante uma corrida no Guará, em maio deste ano. “O motorista fez perguntas invasivas e me olhava de forma intimidante. No início, tentei ignorar, mas a situação piorou quando ele sugeriu que nos encontrássemos”, relembra.

Ela explicou que mudou a rota e desembarcou perto da Praça do Relógio. Sentindo-se aflita, Mariana contou que simulou uma ligação para o companheiro, na tentativa de evitar novas investidas. “A gente nunca está preparada para esse tipo de situação. Acredito que nada de grave aconteceria, mas preferi não arriscar”, desabafa.

Situação semelhante foi vivida por Sofia*, de 31 anos. À reportagem, ela contou que voltava do trabalho à noite, em Águas Claras, quando o motorista começou a elogiar sua aparência, o que a deixou desconfortável. “Fiquei sem reação, pois ele comentava o quanto eu ‘estava bonita’. Foi extremamente desagradável, já que sempre ouvimos histórias de algo ruim acontecendo nessas situações. Passei o resto da viagem em silêncio, torcendo para chegar logo em casa”, relata.

Para a coordenadora do curso de Psicologia da Universidade Católica de Brasília, Ana Cristina Bezerra, situações de assédio, por serem inesperadas, dificultam a reação imediata das vítimas, comprometendo sua defesa pessoal. Nos casos relatados, as passageiras não denunciaram os motoristas por medo e insegurança.

“É comum que as pessoas fiquem paralisadas diante da situação, o que gera um sentimento de culpa, como se a ausência de reação indicasse alguma concordância com a violência sofrida. Isso é tão forte que muitas vítimas têm dificuldade de denunciar, assumindo, ainda que equivocadamente, parte da responsabilidade pelo ocorrido”, explica a especialista.

Ana Cristina acrescenta que, frequentemente, vítimas de assédio se culpam, questionam suas atitudes e acabam abaladas em sua autoestima e autoconfiança. “A vergonha e o silenciamento são respostas comuns, pois ao se sentirem ‘corresponsáveis’ pelo comportamento inadequado, têm dificuldade de falar sobre o ocorrido e de lidar com as emoções desencadeadas, tornando o sofrimento solitário e desvalorizado”, complementa a psicóloga.

Êdela Aparecida Nicoletti, psicóloga especialista em Terapia Comportamental Dialética (DBT), pontua que os impactos psicológicos dessas investidas são profundos, tanto para passageiros quanto para motoristas. Ela reforça a importância de buscar apoio emocional e terapêutico em situações traumáticas. “Muitas vezes, o espaço de segurança pessoal é invadido, gerando uma sensação contínua de insegurança em ambientes como carros ou outros espaços fechados. Além disso, sentimentos de raiva, vergonha e isolamento são comuns, especialmente quando a vítima não recebe o suporte necessário”, avalia.

A especialista acrescenta que a invasão em um ambiente cotidiano, como um carro de aplicativo, pode gerar ansiedade persistente e dificultar a confiança em outras pessoas, afetando tanto a vida social quanto profissional da vítima. “Os sintomas do TEPT podem ser devastadores, impactando relacionamentos, desempenho no trabalho e qualidade de vida em geral. Muitas vítimas relatam dificuldades de concentração e uma sensação constante de cansaço emocional. Reconhecer esses sintomas e buscar ajuda rapidamente é essencial para evitar que o trauma se torne crônico”, conclui a psicóloga.

Regulamentação

Apesar do crescimento exponencial do uso de aplicativos de transporte no Brasil, ainda não há regulamentação específica para casos de assédio sexual durante as corridas. Para o especialista em segurança pública e professor do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) Júlio Hott, a legislação atual não contempla adequadamente as relações entre motoristas e passageiros em casos de importunação sexual, deixando uma lacuna tanto no aspecto criminal quanto na responsabilidade das empresas.

Hott destaca que, atualmente, o que tramita no Congresso Nacional é um projeto de lei que busca regulamentar a relação trabalhista entre motoristas autônomos e as plataformas de transporte, sem abordar diretamente a proteção dos passageiros contra assédio. “Sabemos que mais de um milhão de motoristas exploram autonomamente esse serviço, e, apesar de haver milhões de usuários, ainda não há legislação específica para essa questão”, explica o especialista.

“O que ocorre nesses casos é, geralmente, uma situação de contato momentâneo, na qual o motorista pode se aproveitar da falta de ética para se insinuar sexualmente”, comenta. Nesses casos, em vez de assédio sexual, o crime configurado seria o de importunação sexual, que não exige violência ou ameaça, mas sim uma conduta que cause constrangimento sexual.

O especialista em segurança pública e direito penal Ilmar Muniz reforça que tanto passageiros quanto motoristas vítimas de assédio podem buscar uma delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para registrar um boletim de ocorrência. Segundo ele, além do processo criminal, as vítimas podem acionar a empresa responsável pelo serviço para obter todos os dados necessários e ingressar com uma ação de reparação por danos morais contra o assediador.

“Essas empresas têm a responsabilidade de proteger seus motoristas e passageiros. Em caso de assédio contra o condutor, a empresa deve fornecer todas as informações do passageiro para que sejam encaminhadas à polícia e, posteriormente, utilizadas em uma possível ação civil de indenização. É o mesmo considerando o outro lado”, explica Muniz.

Empresas

Procurada, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), que representa Uber e 99, detalhou que as empresas têm a segurança de usuários e motoristas como prioridade em suas operações. “Nesse sentido, as plataformas possuem guias de conduta para os motoristas parceiros e usuários que proíbem qualquer tipo de assédio ou violência. Além disso, as empresas realizam campanhas regulares sobre comportamentos que não são tolerados”, pontuaram.

“As plataformas ligadas à Amobitec possuem canais de comunicação e ferramentas tecnológicas para que motoristas e usuários possam reportar denúncias de assédio ou qualquer outro tipo de conduta irregular e contam com equipes especializadas para dar suporte e colaborar com autoridades em casos de investigação. Essas equipes estão em diálogo constante com o Poder Público, de forma transparente e colaborativa, colocando-se à disposição para contribuir com iniciativas que busquem avanços na segurança para todas e todos que usam os aplicativos”, pontuou a associação. O Correio procurou a inDrive, mas até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

Ônibus – 53%

A pé/caminhando – 41%

Carro particular – 43%

Carro de aplicativo – 45%

Motocicleta particular – 8%

Bicicleta particular – 8%

Metrô – 9%

Táxi – 4%

Trem – 3%

Mulheres entrevistadas: 350

Fonte: institutos Patrícia Galvão e Locomotiva

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

25 set

Por que cidades com tarifa zero triplicaram e proposta avança entre candidatos da direita

“Uma bandeira, às vezes, coloca uma utopia, mas que indica um problema que é o peso do transporte no bolso do trabalhador.”

“Utopia” foi o termo usado pelo então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) — hoje ministro da Fazenda —, para classificar a tarifa zero, política de gratuidade no transporte coletivo.

A declaração foi feita em entrevista à Folha de S.Paulo, em junho de 2013, em meio à onda de protestos deflagrada pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento da passagem de ônibus naquele ano.

Pouco mais de dez anos depois, 675 programas de governo de candidatos às Prefeituras nas eleições de 2024 citam os termos “tarifa zero” ou “passe livre”, segundo levantamento do projeto Vota Aí, uma parceria entre o Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade Estadual de Campinas (Cesop/Unicamp) e o Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Doxa/Uerj).

O número praticamente dobrou em relação a 2016, quando 384 candidatos citavam a gratuidade no transporte entre suas propostas. Em 2020, foram 434 menções.

A presença crescente da tarifa zero na pauta das eleições municipais acompanha o avanço dessa política nos municípios.

Até setembro de 2024, 136 cidades brasileiras já adotavam a tarifa zero, segundo levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

Em 116 delas, a gratuidade no transporte abrange todo o sistema, todos os dias da semana.

Nas outras 20, há tarifa zero em dias específicos, ou para beneficiários, linhas e bairros determinados.

O avanço da tarifa zero no país ganhou fôlego após a pandemia: até 2020, eram 42 cidades com passe livre no Brasil. Desde 2021, outras 94 implementaram a gratuidade — ou seja, o número mais do que triplicou em quatro anos.

Ao menos seis capitais já adotam a política, ainda que de forma parcial: Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Maceió (AL), Palmas (TO), São Luís (MA) e São Paulo (SP).

“Para quem dizia que a tarifa zero era algo irrealizável, que era uma proposta de moleque, uma bobagem juvenil de quem só queria fazer baderna, hoje fica claro que essas pessoas estavam erradas”, diz Paique Duques Santarém, antropólogo, urbanista e militante do MPL desde sua fundação.

Proposta avança entre candidatos da direita

Desde 2009, a lei obriga os candidatos ao Executivo municipal a registrarem seus programas de governo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O levantamento do projeto Vota Aí foi feito a partir destes documentos, de forma automatizada, com a coleta de informações que constam nos programas.

Nara Salles, coordenadora do projeto, avalia que o crescimento do número de programas que citam a tarifa zero é significativo, principalmente considerando que não são todos os municípios brasileiros que têm transporte coletivo.

Segundo a NTU, no Brasil, 2.703 municípios são atendidos por serviços organizados de transporte público (49% do total de 5.570 municípios).

“O número de citações à tarifa zero nos programas de governo vem aumentando ao longo dos anos pelo destaque que o tema vem recebendo, o que tem a ver com uma demanda da população, mas também com as experiências que têm sido implementadas nos últimos anos”, diz Salles.

A pesquisadora destaca ainda que a proposta era antes mais presente entre candidatos de partidos de esquerda

“Nas eleições de 2016 e 2020, PSOL, PT e PSTU capitalizavam o maior número dessas propostas no Brasil, representando mais de 50% do total”, afirma.

Agora, o tema avança também entre partidos de direita e centro-direita, observa a pesquisadora.

“Em 2024, PT e PSOL continuam sendo os partidos que mais trazem essas propostas em seus programas de governo, mas outros ganham espaço, como PL, MDB, PSD e outros.”

De proposta do PT à crise do transporte

A tarifa zero ou passe livre é uma política pública que prevê o uso do transporte coletivo sem cobrança de tarifa do cidadão.

Nesse modelo, o sistema é financiado pelo orçamento do município, com fontes de recursos que variam, a partir do desenho adotado por cada cidade.

O modelo foi proposto pela primeira vez quando Luiza Erundina, então no PT, estava à frente da Prefeitura de São Paulo (1989-1993).

Quem primeiro teve a ideia foi o engenheiro Lúcio Gregori, à época secretário municipal dos Transportes.

Gregori recorda que a inspiração veio de sua experiência, no início do mandato de Erundina, como secretário de Serviços e Obras, área então responsável pela gestão do lixo da cidade.

“Como todos sabem, quando o lixeiro passa em casa, você não paga nada; simplesmente ele recolhe o lixo, e isso é coberto por uma taxa chamada taxa de lixo ou por uma parte do IPTU que cobre esses gastos”, disse o engenheiro, em entrevista publicada em junho pela Fundação Rosa Luxemburgo.

“Quando me tornei secretário de Transportes, um certo dia, vendo as filas gigantescas e as dificuldades do transporte coletivo, pensei: ‘Por que não fazemos o mesmo que fazemos com a coleta de lixo?”, prosseguiu.

“‘Em vez de pagar cada vez que se entra no transporte coletivo, pagamos uma taxa que cubra os custos.’ Então, quando você usa o transporte coletivo, não paga nada. Dessa ideia básica surge a proposta de fazer o transporte coletivo com tarifa zero.”

Entrevista coletiva da então prefeita Luiza Erundina e do secretário de Transportes Lúcio Gregori sobre a tarifa zero para os ônibus em São Paulo (SP), em 1990

Com Erundina governando com minoria na Câmara Municipal e isolada dentro do próprio partido, a proposta não avançou durante sua gestão.

Mais de dez anos depois, em 2005, foi criado o MPL. Após um período defendendo a gratuidade nos transportes apenas para estudantes, o grupo passou a reivindicar a tarifa zero universal e ganhou notoriedade nacional com os protestos de junho de 2013.

Desde então, a proposta se tornou realidade em 136 cidades brasileiras, mas por um motivo talvez surpreendente para uma proposta que surgiu de um governo de esquerda e foi defendida por um movimento social em protestos de rua, muitas vezes duramente reprimidos pela polícia.

A tarifa zero se tornou uma solução para prefeitos e empresários do transporte coletivo, em meio à crise do setor, provocada pela queda no número de passageiros, agravada pela pandemia.

Solução para a perda de passageiros

Daniel Santini, pesquisador da tarifa zero e autor dos livros Sem Catraca: da utopia à realidade da Tarifa Zero (a ser lançado pela editora Autonomia Literária em 28 de setembro) e Passe Livre: as possibilidades da Tarifa Zero contra a Distopia da Uberização (2019), aponta três motivos principais para o avanço desta política nas cidades brasileiras.

O primeiro deles, segundo Santini, é econômico, fruto da queda no número de passageiros em meio ao avanço do transporte individual e da “uberização”, mas também do modelo de financiamento do transporte público na maior parte das cidades brasileiras, baseado na remuneração por passageiro.

“Esse modelo já estava em crise antes da covid, mas, depois dela, a diminuição no número de passageiros se agrava”, diz Santini.

Quando os sistemas começam a perder passageiros, os empresários buscam aumentar o preço da passagem para compensar a perda de receita ou reduzem a frequência dos ônibus para reduzir custos, afirma o pesquisador.

“Quando isso acontece, mais passageiros são perdidos, porque as pessoas não querem andar esmagadas ou não têm dinheiro para pagar os valores mais altos. É um ciclo vicioso, que gera uma espiral de queda [no número de passageiros], o que vai minando a sustentabilidade do transporte público”, aponta Santini.

“Com isso, você começa a ter empresários não só favoráveis ao aumento do subsídio [valor pago pelas prefeituras para financiar parte do sistema de transporte público], como da tarifa zero.”

Isso porque a gratuidade para o cidadão implica no subsídio total da tarifa pelo poder público.

‘Modelo já estava em crise antes da covid, mas depois dela, a diminuição no número de passageiros se agrava’, diz Daniel Santini, pesquisador da tarifa zero

Francisco Christovam, diretor-executivo da NTU, afirma que a ideia de que os empresários de ônibus se beneficiam com a tarifa zero é equivocada.

“Eventualmente, ela beneficia as empresas que estão instaladas no município [que adota tarifa zero], porque essas empresas não têm que fornecer mais o vale-transporte. As empresas de ônibus não se beneficiam, porque o subsídio não é para elas, quem são subsidiados são os passageiros, que têm a possibilidade de usufruir de um serviço público sem a necessidade de pagar tarifa”, argumenta o representante do setor empresarial.

“O custo do transporte tem de ser coberto, seja pelos usuários através do pagamento da tarifa, ou pela Prefeitura, quando ela decide trabalhar com tarifa zero. Então, dizer que tarifa zero beneficia empresa de ônibus é ledo engano, para não dizer, má-fé.”

‘Tarifa zero dá voto’

O segundo fator que explica o avanço da tarifa zero nas cidades é político, diz Santini.

“A tarifa zero é uma política que dá votos, porque ela resulta em muita adesão por parte da população”, observa o pesquisador.

Ele destaca como evidência disso o fato de serem poucas as cidades que reverteram a política depois de sua implementação, mesmo após mudanças de administração.

“Há uma taxa de manutenção superior a 96%. Isso mostra que é uma política de sucesso e muitos políticos — inclusive muitos que não são ligados ao campo mais progressista — perceberam isso.”

Um levantamento feito por Santini para seu novo livro mostra que, das 116 cidades com tarifa zero integral atualmente em vigor, a maioria é governada por partidos de centro-direita, direita e mesmo direita radical.

Apenas uma pequena parcela dos prefeitos e prefeitas que implementaram a política pode ser considerada de esquerda ou centro-esquerda, de acordo com o pesquisador.

Paique Duques Santarém, do MPL, avalia que esses dados refletem o fato de que a maioria das pequenas cidades brasileiras são governadas pela direita.

E são essas as cidades que mais têm implementado a gratuidade no transporte, porque foram as primeiras a sofrer com o colapso financeiro de seus sistemas de transporte, afirma.

Um levantamento do Laboratório de Partidos Políticos e Sistemas Partidários da Universidade Federal do Paraná (UFPR) feito após as eleições municipais de 2020, e citado em reportagem do portal G1, estimou que partidos de direita comandam 82% dos municípios brasileiros desde a última eleição, superando por uma larga margem a esquerda (15%) e o centro (4%).

Já os dados da NTU mostram que mais de 60% dos municípios a adotar tarifa zero têm até 50 mil habitantes e uma frota total de, no máximo, dez ônibus.

“As cidades menores têm uma frota muito pequena, então, é mais fácil para a Prefeitura bancar o custo da prestação do serviço”, diz Francisco Christovam.

Por fim, o terceiro fator citado por Santini para o avanço da tarifa zero nas cidades é o papel da mobilização social das últimas duas décadas em prol da ideia de mobilidade como direito. Paique Santarém compartilha dessa avaliação.

“As lutas sociais criaram progressivamente empecilhos para que o transporte coletivo sanasse sua crise de financiamento por meio de aumento de tarifas, que era a forma histórica que o setor utilizava para resolver suas dificuldades”, defende o militante do MPL.

Impactos sociais

Passada mais de uma década de junho de 2013 e com a explosão no número de cidades com tarifa zero nos últimos quatro anos, já é possível fazer um balanço dos impactos dessa política nas cidades.

Um primeiro efeito observado por gestores municipais é um forte aumento na demanda pelo transporte público após a adoção da gratuidade.

“Aqui em Maricá, [a demanda] cresceu mais de seis vezes”, disse Celso Haddad, presidente da Empresa Pública de Transportes (EPT) de Maricá (RJ), em entrevista à BBC News Brasil em abril de 2023.

“Tínhamos em torno de 15 mil a 20 mil pessoas transportadas diariamente e, hoje, transportamos mais de 120 mil. A tarifa zero é um propulsor do direito de ir e vir, é muito avassaladora a diferença.”

A cidade fluminense iniciou seu projeto de tarifa zero em 2014, durante o mandato de Washington Quaquá (PT) na Prefeitura, financiando o modelo graças a um orçamento turbinado por royalties do petróleo — compensação recebida por municípios pela exploração do óleo em suas águas.

Um segundo impacto apontado por gestores públicos é o aquecimento das economias municipais, com o dinheiro economizado nas passagens sendo destinado ao varejo e serviços locais, resultando em maior arrecadação de impostos para os cofres das cidades. E o maior acesso a serviços de saúde e bens culturais.

“É uma questão muito maior do que a de mobilidade. Existe a questão social, a de geração de recursos, porque, na hora em que eu implantei a tarifa zero, aumentou o gasto no comércio, a arrecadação de ICMS, de ISS”, relatou Josué Ramos (PL), prefeito de Vargem Grande Paulista (SP), que implementou a tarifa zero no município em 2019 devido à necessidade crescente de subsídios para o transporte.

Na cidade, a gratuidade é financiada por meio de um fundo, cujas principais receitas são uma taxa paga pelas empresas locais no lugar do vale-transporte, publicidade nos ônibus, locação de lojas nos terminais e 30% do valor das multas de trânsito.

“Existe também a questão da saúde: tínhamos 30% de pessoas que faltavam à consulta médica e esse índice reduziu, porque as pessoas não tinham dinheiro para ir à consulta. Então ajudou em todas as áreas. A tarifa zero, ao ser debatida, precisa levar em conta tudo isso.”

‘Tínhamos 30% de pessoas que faltavam à consulta médica e esse índice reduziu, porque as pessoas não tinham dinheiro para ir à consulta’, diz prefeito de Vargem Grande Paulista

O desafio das grandes cidades

Embora a tarifa zero esteja avançando nas pequenas e médias cidades, ainda não há nenhuma capital que tenha adotado o modelo de forma integral.

Entre as seis delas que adotam as medidas, há restrições de dias de funcionamento, regiões ou usuários atendidos, segundo a NTU:

Entre os desafios para a adoção da tarifa zero nas grandes cidades, está o custo de implantação.

Em São Paulo, por exemplo, o custo de operação do sistema de ônibus municipais é estimado em R$ 12 bilhões, sendo R$ 5 bilhões financiados via subsídio.

Para bancar somente a tarifa zero aos domingos, foram destinados R$ 500 milhões do Orçamento da Prefeitura em 2024.

Para além do custo, há outros entraves, como conseguir atender ao esperado aumento de demanda, que exige investimentos não apenas no aumento de frota, mas em infraestrutura urbana.

Há também desafios na integração com o transporte sobre trilhos, já que metrôs e trens operam em muitas capitais no limite de sua capacidade e costumam ser geridos pelos governos estaduais.

‘Bolsa Família sobre rodas’

Para Paique Santarém, do MPL, apesar da satisfação em ver um número crescente de pessoas conquistando o direito à mobilidade — que foi assegurado no artigo 6º da Constituição através da Emenda Constitucional 90 de 2015 —, ainda há muito a ser feito pela democratização de fato do transporte público no país.

“Não encaramos só como uma conquista, porque consideramos que estamos no meio de um processo de luta”, diz o ativista.

“Estamos ainda distantes da construção de um Sistema Único de Mobilidade no país, em que usuários e trabalhadores do transporte tenham direito de gestão sobre o tema, e com financiamento progressivo [isto é, com contribuição maior da parcela mais rica da população].”

A proposta de criação de um Sistema Único de Mobilidade (SUM), baseada no exemplo do Sistema Único de Saúde (SUS), foi apresentada pela hoje deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) na PEC 25/2023.

“Essa PEC nacionaliza a tarifa zero, tornando-a uma política pública nacional, financiada por meio de recursos dos municípios, Estados e União. Essa é hoje nossa bandeira”, diz Santarém.

Para Santini, que estudou em seu mestrado a experiência da tarifa zero em Mariana (MG), a nacionalização da política seria equivalente a um “novo Bolsa Família”.

“Cruzando dados do CadÚnico [cadastro de famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza] com o número de viagens georreferenciadas, para identificar onde houve o maior aumento do uso do transporte público [com a tarifa zero em Mariana], fica evidente que houve um aumento expressivo nos bairros mais pobres, em linhas que conectam às regiões centrais, onde estão os equipamentos de saúde, de cultura e os empregos”, diz o pesquisador.

“Então, com a tarifa zero, há uma redução da segregação que marca nossas cidades e um aumento da possibilidade de pessoas pobres alcançarem serviços essenciais. É uma ferramenta clara para redução da desigualdade social, com potencial para ter impacto como um Bolsa Família.”

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

23 set

Boulos faz bicicletada na Paulista e diz que Nunes fugiu de debate

O candidato a prefeito de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) criticou neste domingo, 22, a ausência de Ricardo Nunes (MDB) no debate promovido pelo Grupo Flow, marcado para esta segunda-feira, 23. Nunes justificou sua ausência alegando agenda cheia e dizendo que já participou de outros debates, sabatinas e podcasts. Boulos alegou que o atual prefeito está fugindo do confronto.

“O Ricardo Nunes precisa explicar porque está fugindo do debate”, disse o candidato do PSOL durante uma “bicicletada” na Avenida Paulista, região central da capital. “Não entendi quando decidiu não ir. Talvez porque tenha receio de ser questionado sobre a ineficiência da sua gestão de três anos e meio, que não cumpriu as metas. Ou talvez porque tenha receio de ser questionado sobre os escândalos da sua gestão”, completou, conforme relato de O Globo.

Como o Estadão mostrou, o debate do Grupo Flow, responsável pelo Flow Podcast e Flow News, estava inicialmente agendado para ocorrer no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP. Porém, estudantes convocaram uma manifestação em protesto contra a presença de Nunes e Pablo Marçal (PRTB) na faculdade. Em decorrência disso, o local do evento foi alterado duas vezes: primeiro para o Centro de Difusão Internacional da USP e, finalmente, para o Clube Sírio.

O debate está marcado para as 20h desta segunda-feira, 23. Boulos, Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo) confirmaram presença. A campanha de Marçal não se manifestou oficialmente, mas um aliado afirmou à reportagem que ele participará. A assessoria de José Luiz Datena (PSDB) não respondeu.

O deputado federal dedicou o domingo a uma única agenda de campanha: uma “bicicletada” na Avenida Paulista, fechada para carros e aberta aos pedestres aos domingos, uma política implementada na gestão do petista Fernando Haddad, em junho de 2016. No evento, Boulos elogiou a iniciativa de Haddad, hoje ministro da Fazenda, e assumiu compromissos com a mobilidade urbana.

O psolista afirmou que, se eleito, seu compromisso será criar uma “cidade melhor para ciclistas e pedestres”, oferecendo incentivos para quem utiliza a bicicleta como meio de transporte. O deputado federal reiterou a promessa de instalar bicicletários em todos os terminais de ônibus e nas estações de metrô e da CPTM que ainda não contam com o equipamento, conforme previsto em seu programa de governo.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram